segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O filho preferido


Em Lucas no capítulo 15 Jesus conta uma história sobre dois filhos perdidos. Um perdeu-se fora de casa e outro dentro do seu próprio lar. Qual deles é o mais preferido do pai?

Bem, o relato não nos revela qualquer preferência sobre qualquer deles, mas enfatiza o facto de que ambos estavam desfocados da vontade do Pai e do propósito familiar.



Independentemente da comparação que se queira dar à história, se é apenas de um filho que retorna à casa do Pai, se é de um filho (mais velho) que é avarento, ou se prefere a história de dois irmãos desencontrados, o judeu, o irmão mais velho; e o gentio, o irmão mais novo.

Então, mas o judeu (o que fica em casa), não é do “povo escolhido”? Sim, mas como se resolve a questão de que para Deus NÃO HÁ “judeu ou grego”? Ou você tem mais preferência pelo coitadinho arrependido que nem as bolotas dos porcos tinha permissão para comer?

Não adianta colocar aqui no meio que um episódio é um relato antes da “cruz” e que o derrube do “muro” é posterior, até porque, eu poderia repor que os “filhos perdidos” são uma mensagem profética e de recado para os judeus. Repare: “E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo:…” Lucas 15:1-3


O auditório de Jesus inclui pelo menos quatro grupos de pessoas: publicanos, pecadores, fariseus e escribas. Parece, no entanto, haver no versículo 11 alguma mudança de cenário pois a história dos dois filhos não é descrita como sendo uma parábola, mas um ensino ou um episódio realmente ocorrido. Contudo, não podemos negar o grande carácter de um Pai que faz de tudo para que os seus dois filhos se sintam bem em Casa.

E aqui reside uma grande confusão que a maioria dos evangélicos cometem quando por tudo e por nada comentam relativamente aos judeus, que são “o povo escolhido”, uma expressão simplória demais, que por um lado atiça o anti-semitismo e por outro revela uma grande ignorância ou omissão sobre o propósito para o qual Deus escolheu um povo, ao qual, por estranho que pareça, Jesus chamou “raça de víboras”.

O propósito para o qual um povo foi escolhido já foi cumprido! Foi para nos dar um Messias, um Redentor da humanidade, um Príncipe da Paz, um Deus Connosco (Emanuel)! Esta é a mensagem que o judeu e o gentio precisam de reconhecer: Deus escolheu um povo para dar um Salvador a TODA A HUMANIDADE.

Então, agora os judeus já não são mais o “povo escolhido”…? Porque você insiste nessa pergunta? O Pai ama os dois filhos do mesmo modo ainda que ambos tenham necessidades diferentes! Mesmo que na sua casa você tenha a bênção de ter um filho biológico e outro por adopção, ambos têm os mesmos direitos e deveres. O Pai, o do relato de Lucas, insistiu com o mais velho, imagine, que usufruísse de todas as bênçãos da Casa do Pai. Por ciúme, ele achou que o filho mais novo que se afastou e destruiu parte da fazenda, não tinha que usufruir das mesmas regalias.

Os judeus pagaram um preço muito elevado por terem sido o “povo escolhido”, e ainda pagam. Infelizmente muitos gostariam de não ter que levar com esse peso por mais tempo pois também não entenderam o grande privilégio que é ter dado ao mundo o conhecimento de um Deus único, verdadeiro, presente, perdoador, restaurador, curador, dador de toda a boa dádiva, e tudo isto através de Jesus, Messias deles e nosso.

A vulgaridade “povo escolhido”, desculpem, preciso de dizê-lo, não expressa nenhum amor pelo povo judeu. Se você quer expressar-se de forma “evangélica” então diga ao mundo e aos judeus que está grato pelo Messias Judeu que um dia mudou a sua vida. Diga ao mundo e aos judeus que amamos a mesma Casa e que queremos aprender juntos aos pés do Mestre como se faz a paz no mundo, na nossa família e o nosso interior.

Da próxima vez que usar a expressão “povo escolhido” diga que você também é herdeiro das bênçãos de Abraão, que não há diferença entre você e o judeu, e que o Messias já dado à humanidade é de todos.

Samuel Dias

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