segunda-feira, 17 de abril de 2017

Jesus no Yom Kippur



Muitas abordagens na Bíblia sobre a ordenança do Yom Kippur anteveem o grande Dia da Expiação: o sacrifício do próprio Messias.

Aparentemente, Deus enumera mandamentos estranhos e até mesmo bárbaros acerca do sacrifício de sangue na Lei, que para nós, cidadãos do século XXI nos parecem muito desconcertantes. Contudo, quando olhamos cuidadosamente e em detalhe para as instruções e o que está por detrás, torna-se impressionante verificar a beleza e a profundidade da sabedoria de Deus e dos seus planos proféticos. Basta apenas cavar um pouco mais para descobrir tesouros maravilhosos.

A iniciativa de Deus.

Primeiro que tudo, é importante notar que, neste dia especial, no qual o Criador deveria unilateralmente limpar os pecados de todo o povo de Israel, a ideia foi do próprio Deus. Foi uma iniciativa sua! Não foram os hebreus que vieram a Ele e disseram, "Nós sentimo-nos mal por todos os pecados que cometemos e estamos preocupados porque também há coisas que não estávamos apercebidos que poderiam separar-nos, então, por favor, podemos arranjar algum tipo de dia anual de amnistia para começar-mos tudo de novo? Não, não foi assim.

Yom Kippur, o Dia da Expiação é uma ideia de Deus. Foi Deus quem estava mais aborrecido com a distância entre nós, do que os homens alguma vez estiveram. Ele ama-nos mais do que nós O amamos a Ele. Sempre foi assim e sempre será.

O Yom Kippur é o próprio instrumento de Deus para restaurar o relacionamento entre a sua santidade e o povo pecador. Do mesmo modo, foi Deus quem tomou a iniciativa de enviar o Seu Filho para morrer por nós enquanto nós éramos ainda pecadores. Deus instituiu um dia em que (Ele) pudesse reconciliar-se com o seu povo: o dia do Yom Kippur, o qual em última instância aponta para o dia da cruz.

Deixando para trás as vestes de esplendor.

Normalmente, os trajes do sumo-sacerdote eram como de um esplendor deslumbrante. Eram feitos de cores brilhantes e o peitoral tinha pedras preciosas. Mas no Yom Kippur, era requerido ao sumo-sacerdote que se despisse destas vestes gloriosas em troca de uma simples vestimenta de linho branco, afim de entrar no Lugar Santíssimo.

Rambam, um sábio judeu, sugere que era uma evocação de um anjo servidor, e que a pureza da simplicidade do tecido branco simbolizava a santidade do dia (רמב”ן, ט”ז, ד – Ramban 17,4). Apenas o seu turbante se mantinha. Para todos os efeitos e propósitos ele devia parecer-se apenas como qualquer outro sacerdote. Isto prefigura Jesus, o nosso grande sumo-sacerdote, que coloca de parte as suas vestes de esplendor celestial e coloca as de um ser humano comum, de carne e osso, para tornar-se um de nós, e ainda assim permanecer santo.

Ao sacerdote era requerido que oferecesse um sacrifício pela sua própria culpa e pelos pecados da sua casa. Antes ele era purificado na presença de Deus para de seguida oferecer sacrifícios pelo povo. Dois bodes eram escolhidos: um para ser sacrificado e outro para ser liberto no deserto para não ser visto outra vez! O sacerdote colocava as mãos na sua cabeça, transferindo simbolicamente os pecados da nação para o bode e depois ele desapareceria para sempre.

Este é um quadro maravilhoso de Deus levando os nossos pecados para longe, tão longe, quanto o ocidente do oriente, para que nunca mais haja memória dele.

A invulgar aspersão de sangue.

Adicionalmente, apenas neste dia do ano, o sumo-sacerdote era autorizado a entrar no lugar do Santo dos Santos, onde a Arca da Aliança era guardada. Ninguém mais estava autorizado a entrar ali e só ao sumo-sacerdote era permitido apenas uma vez por ano: no Yom Kippur. Kippur significa "cobertura" ou expiação.  O topo da arca da aliança, a tampa, ou a cobertura, chamava-se em hebraico "o kaporet", e ao sumo-sacerdote era requerido que aspergisse o sangue do sacrifício sobre esta cobertura, sob a "observação" dos dois querubins, os anjos que com as suas asas tocavam o topo da arca.

Estes dois querubins lembram-nos os anjos que foram colocados no jardim do Éden para guardar e prevenir que Adão e Eva regressassem ao Paraíso. Agora estes anjos "observam" o sangue entre a Lei sagrada de Deus que era guardada dentro da arca e o povo torna-se assim aceitável para Deus apesar do seu pecado. Embora a Lei estivesse ali, eles viam o sangue e assim o pecado do povo era expiado.

O sacerdote devia entrar com o incenso antes de se aproximar da arca, representando as orações feitas pelos justos a Deus, mas o que é notável é o modo como os rabis insistem que o sangue seja aspergido sobre a arca.

Ao contrário de outros sacrifícios que requerem a aspersão de sangue, neste dia mais sagrado do ano, na única oportunidade de entrar no Santo dos Santos perante Deus, os rabis concordam que o movimento dos sacerdotes seja "ke-mazlif" (כמצליף) ou como se estivessem a chicotear alguém. Aqui está uma transcrição do que está escrito na Mishna (uma das duas partes do Talmude. (Yoma 5:3)

"Ele tomava o sangue do responsável por agitá-lo, e entrava (novamente) no lugar em que ele havia entrado, e ficava de pé (novamente) no lugar em que ele havia estado, e (o) aspergia uma vez para cima e sete vezes para baixo, sem a intenção de aspergir nem para cima nem para baixo, mas fazendo “kemazlif” (como o movimento de balançar um chicote) e assim ele contava: um, um e um, um e dois, um e três, um e quatro, um e cinco, um e seis, um e sete. Então ele saia e o colocava no pedestal de ouro no Santuário.”

Os rabinos repetem isso no Talmude babilónico (Tractatus Yoma, 15a): “Ainda não aprendemos: Ele aspergia uma vez para cima, e sete vezes para baixo? Isso era o ke-mazlif ' (como o movimento de balançar um chicote). O que significa “ke-mazlif”? Rab Judá demonstrou-o (imitando os movimentos de) com um chicote."

Rashi, o famoso comentador rabínico da Idade Média, admite que não compreende o que isso realmente significa, enquanto que o Rabi Ovadia Barttenura sugere ser um movimento de açoitar alguém cruzadamente dos ombros para baixo e alguns têm mesmo sugerido que a palavra originalmente era “ke-matzliv”, a qual faz uma alusão a uma cruz, mas as implicações eram demasiado obvias para os Sábios Judeus e então mudaram para “ke-matzlif”.

De qualquer forma, seja originalmente uma cruz ou não, este é um fenómeno particular: Encontrar com Deus apenas uma vez por ano neste modo tão íntimo e então lançar sobre ele o sangue como se estivesse a chicoteá-lo repetidamente. Até mesmo as funções atribuídas aos rabis servem para reforçar a figura do próprio Deus pagando o preço pelos nossos pecados, sendo chicoteado e sofrendo às mãos da humanidade.

De volta onde deveria estar.

Durante todo o ano, o tabernáculo absorveu todos os pecados do povo através de sacrifício após sacrifício, dia após dia. Mas o Yom Kippur é como presssionar o botão “reset” (reiniciar) – desinfetando o lugar de todos os pecados do povo, e colocando tudo de novo “a zeros”.

Yom Kippur é chamado de “Shabbat shabbaton”, o dia do descanso solene. O Sábado de todos os Sábados, um pouco com o Ano do Jubileu (sete anos sabáticos), quando tudo volta ao seu proprietário original ou regressa ao lugar onde deveria estar. Este é o último alvo de Deus: enviar o nosso Redentor, Yeshua, para nos restaurar o direito de nos relacionarmos com Ele, tal como no Jardim perfeito do Éden antes da Queda.

O jardim do Éden antes da Queda.

Deus instrui na Torah, em Levítico 16 e 23, claramente apontando para o Messias, Yeshua, e como ele um dia nos iria redimir a todos através do seu sangue. Tal como Deus declara através do profeta Zacarias (3:9) “…e tirarei a iniquidade desta terra num só dia.” Deus fez exatamente isso, tal como disse que o faria. E nós estamos muito gratos porque Ele o fez.

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