quarta-feira, 19 de abril de 2017

Um Jesus Palestiniano



Jesus nasceu na Palestina? Parece uma pergunta estranha para se fazer. Claro que nasceu, certo?

A resposta é simultaneamente sim a não. Por um lado, Jesus nasceu na área geográfica que as pessoas agora chamam Palestina, mas por outro, dizer que Jesus nasceu na “Palestina” é uma declaração anacrónica. Colocado da forma mais simples, nos tempos bíblicos, a Palestina não era conhecida como tal, era conhecida como Judeia. Jesus nasceu em “Belém da Judeia” Mateus 2:1

Algumas pessoas podem achar que se está a fazer desta questão uma grande problema por coisa nenhuma, mas deixem-me dizer é importante distinguir Judeia da Palestina.

Dizer que Jesus nasceu na Palestina é historicamente incorreto.

Primeiro que tudo, destacar que o lugar de nascimento de Jesus foi na Palestina é errado historicamente. Belém não esteve associado com a Palestina nos tempos bíblicos. De facto, até 135 d.C., aproximadamente 135 anos depois da vida terrestre de Jesus, Palestina como localização geográfica nunca existiu.

Aqui vai uma breve lição histórica de como o nome “palestina” apareceu:

O Templo em Jerusalém, o lugar mais sagrado dos Judeus, foi destruído no ano 70 d.C. Contudo, o povo Judeu não foi completamente dizimado e as aspirações nacionalistas persistiram entre eles. Depois de numerosas revoltas (115-117 d.C.) um destacado líder político e militar chamado Shimon Bar Kokhba, sublevou-se e conduziu o povo Judeu a uma grande revolta contra as forças romanas ocupantes (132-135 d.C.). O evento passou a ser conhecido como a “Rebelião de Bar Kokhba”.

Não é conhecido se Bar Kokhba fez algumas reivindicações messiânicas, mas muitos na sua época levantaram a suspeita se ele poderia ser o Messias Judeu. Por exemplo: Bar Kokhba (originalmente Bar Kosiba) recebeu o nome através do Rabi Akiva, um respeitado professor religioso, o qual proclamou que Shimon era “a estrela” (em hebraico Kokhba) que “sairia de Jacó”, uma menção a Números 24:17 e um texto a que se atribui claramente uma implicação messiânica.
“Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete.”

Apesar dos corajosos esforços de Bar Kokhba, ele e os seus seguidores não prevaleceram sobre a crueldade das forças romanas. Os Romanos subjugaram completamente os rebeldes, e consequentemente, o resto do povo judeu pagou um preço muito elevado.

Palestina.

Depois de proclamar a vitória sobre Bar Kokhkba e os seus rebeldes, e considerarem as muitas revoltas que tinham havido anteriormente, os Romanos decidiram por um fim à questão de uma vez por todas.

Eles tinham consciência da grande importância da terra para os Judeus. Então, num esforço para atingi-los precisamente onde lhes pudesse doer mais, eles decidiram dispersar o povo da região e apagar toda a identidade judaica da sua terra, removendo o nome Judeia e renomeando a região com o nome dos seus ancestrais inimigos, os Filisteus usando a variante latina da palavra: Palestina.

E então, pela primeira vez na história a Judeia foi chamada Palestina. Por essa razão, apesar de se dizer que Jesus nasceu na Palestina, o que não é inteiramente falso, não é na verdade verdadeiro ou correto afirmá-lo. Históricmente é absolutamente incorreto.

Dizer que Jesus nasceu na Palestina é exegeticamente desonesto.

Se você emprega o método histórico-gramatical para interpretar as escrituras, eu dou-lhe os parabéns. Como estudante da Bíblia, eu também acredito neste método como uma preciosa ajuda para interpretar a Escritura. A ideia central desta metodologia é procurar descobrir a intenção de um texto em particular, dirigido à sua audiência original, no seu contexto original.

Então, se lhe acontecer estar a pregar sobre Mateus capítulo 2 e olhar para o facto de que o verso 1 diz, “E, tendo nascido Jesus em Belém da Judeia,…” e nas suas anotações você tem a palavra “Palestina” você está a ser desonesto exegeticamente. Então, em minha opinião, o povo que está a ouvir o seu sermão tem o direito de questionar a sua integridade como um sério e consistente pregador da Palavra de Deus.

É muito simples. A Bíblia não diz Palestina, diz Judeia. Enquanto muitas pessoas hoje se referem à região como Palestina, se as igrejas cristãs que têm o dever de serem devidamente compreensivas no entendimento da história e contexto sócio-político do tempo de Jesus, e se se quer procurar ser honesto na exposição das Escrituras talvez fosse mais correto destacar que “Jesus nasceu em Belém da Judeia região que mais tarde os Romanos renomearam como Palestina”.

Basta dizer, por agora, que Judeia, não Palestina, foi contextualmente o lugar do nascimento de Jesus. Não devemos ter vergonha da judaicidade de Jesus pois Ele certamente não tinha. Há um significativo fundamento profético pelo simples facto de Jesus ter nascido na Judeia (um nome bastante Judaico por sinal). Além do mais, apenas faz sentido que Jesus, o Pão da Vida (João 6:35) tivesse nascido em Belém (Hebraico: בית לחם beit-lechem), a “Casa do Pão”. Isto é, em parte, a razão porque o profeta Miqueias profetizou que seria em Belém, na terra de Judá, de onde sairia aquele “governante que seria o pastor do meu povo Israel”. Miqueias 5:2.

"Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos."

Dizer que Jesus nasceu na Palestina tem uma motivação política.

Por último, dizer que Jesus nasceu na Palestina não só é historicamente incorreto e exegeticamente desonesto, como também tem uma motivação política. Nós podemos dar às pessoas o benefício da dúvida e assumir que não estão atentas a este facto, mas os pregadores, a menos que desejem prejudicar um povo e favorecer o outro, devem responsáveis por manter os seus púlpitos neutros politicamente.

Por muito que os Romanos tivessem tentado remover a identidade Judaica da terra da Judeia e impor uma identidade nacionalista isso teria sido completamente estranho a Jesus. Para os meios políticos modernos, certos círculos chamam a Jesus “um Palestiniano” para dividir a Igreja relativamente a Israel no seu conflito com os Palestinianos.

Os Evangelhos não nos falam acerca de apoiar ou não apoiar as políticas de Israel, mas também não nos falam acerca da divisão da terra. O Evangelho fala acerca de verdade e reconciliação. O evangelho fala-nos a respeito do que Cristo fez a favor de toda a criação para reconciliá-la com Deus. Recentemente ouvi um cristão pró-palestiniano dizer que “apoiar o Estado Judaico é contra o Evangelho”. A sério? Mas apoiar um “Estado Palestiniano” que oprime o seu próprio povo e suprime as liberdades de expressão e religião, não é contra a mensagem do Evangelho? Um cristão palestiniano pode, porventura, pregar o Evangelho livremente sob a liderança do Hamas em Gaza ou da Autoridade Palestiniana tal como o faz sob a soberania Israelita? Realmente não pode.

Sejamos claros. O Evangelho não nos orienta a apoiar qualquer Estado da região ou do planeta. De facto, o Evangelho ordena-nos a todos que sejamos seguidores de Jesus e a amar-mos os nossos inimigos, sejam eles judeus, árabes, ou quem quer que seja.

Conclusão.

Dizer que Jesus nasceu na Judeia é irrelevante para o facto de eu ser pró-Israel. Mas eu também não sou anti-Palestiniano. Tenho amigos Palestinianos que diriam exatamente a mesma coisa. De facto, provavelmente, tenho passado mais tempo com Palestinianos no Médio-Oriente, apoiando as suas causas, mais do que eles próprios conseguem se defender a si mesmos.

Eu apenas cuido em ser historicamente rigoroso, exegeticamente honesto e politicamente neutro como um líder que se mantém responsável diante de Deus pela forma como conduz o seu povo. E querem saber mais? O povo de Deus consiste em Judeus e Palestinianos que acreditam na proposta de Jesus para a paz no mundo. Eu quero ser sensível à dor e preocupação de ambos os povos. Mas também quero estar bem informado e ser verdadeiro.

Eu admito que isto é uma coisa muito difícil de fazer. É como caminhar na corda bamba. Se você se firmar nesta posição, ela não fará sentido para muitas pessoas. Alguns irão acusá-lo de ser anti-Palestiniano e outros dirão que você é anti-Israel. E o que podemos dizer? Bem-vindo ao bom combate. Contudo eu encorajo-o vivamente a caminhar nesta corda bamba comigo.

Jesse Rojo

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