Os judeus messiânicos estão sob a Lei?

"ONE FOR ISRAEL" é o maior ministério Messiânico Israelita no mundo e com muita frequência colocam-nos esta questão.

Em resposta, publicámos um pequeno e-book de 75 páginas intitulado "O Objectivo da Torah". Ainda assim, para quem está limitado no tempo aqui estão alguns tópicos nos quais nos fundamentamos:
Actualmente há cerca de 350.000 Judeus crentes em Yeshua no mundo. Provavelmente não mais do que 2-3% consideram-se "Observadores da Torah". Também estamos conscientes do crescimento em número de Cristãos-gentios que se intitulam "Movimento das Raízes Hebraicas", considerando-se eles próprios como "Observadores da Lei". Muitos, nos círculos "Observadores da Torah", não são Judeus. Deveríamos portanto reflectir sobre a razão porque não-Judeus estão tão famintos em observar uma Lei que nunca teve intenção de ser para eles.

Uma conclusão rápida dá-nos a sensação de que, mais do que enfatizar a fidelidade ao Messias, eles enfatizam antes a observação da Torah como o aspecto que os diferencia, sugerindo que são mais obedientes a Deus, ou que têm uma espiritualidade mais profunda, do que os outros seguidores de Jesus. Talvez eles argumentem que a sua obediência à Lei é fidelidade a Cristo, mas há um distinto desequilíbrio nesta abordagem.

Inadvertidamente, talvez eles tenham criado um "sistema de duas camadas de crentes": a mais espiritual é a que observa a Lei e a menos espiritual a que não a observa. Isto não é apenas anti-bíblico, mas também separa estes grupos do resto do Corpo de Cristo de uma forma doentia, tornando-os orgulhosos, críticos, sobranceiros e arrogantes relativamente a outros cristãos. Isto, em nossa opinião, opõe-se exactamente à essência do Evangelho da graça e do amor.

Talvez sem se aperceberem, os grupos que observam a Torah passam também depender das tradições rabínicas que são distintamente pós-bíblicas, ou então constroem as suas próprias tradições. Por exemplo, os membros de tais grupos não enviam os seus varões a apresentar-se perante o Senhor em Jerusalém, tal como é requerido na Lei de Moisés, nem para oferecer sacrifícios. Então, não pode haver dúvidas de isto ser uma autêntica forma de observância equiparada ao primeiro século.

A ironia é que se um gentio quer realmente observar as festas de acordo com a Lei, primeiro eles necessitam de circuncidar a sua casa: "Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a Páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela." Êxodo 12:48

Nós cremos que a aliança no Sinai foi para a nação de Israel, e foi feita:

1- Para expor a nossa natureza pecaminosa;
2- Para separar Israel das nações;
3- Como um sistema temporário até à vinda do Messias.

"Logo, para que é a lei? Foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem a promessa tinha sido feita; e foi ordenada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Ora, o mediador não o é de um só, mas Deus é um só. É a lei, então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos que crêem. Mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar. De modo que a lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio." Gálatas 3:19-25

Nós cremos que o foco central da aliança no Sinai incluía os sacrifícios, o sacerdócio e o templo (o qual já não existe). Os mandamentos foram ligados à aliança e foram a forma de a fazer cumprir. Por exemplo:

1- Para as festas bíblicas principais a Lei ordenava que se subisse ao templo em Jerusalém afim de celebrar as festas do Senhor. "Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão perante o Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher: na festa dos pães ázimos, na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos. Não aparecerão vazios perante o Senhor." Deuteronómio 16:16

2- Para a celebração do Sábado tinha que ser feito um sacrifício. "... e a sua oferta de cereais, de flor de farinha misturada com azeite, três décimos de efa para o novilho, dois décimos para o carneiro." Números 28:9

Assim sendo, tentar observar os mandamentos sem templo é como comer cozido à portuguesa sem chispe.

As leis Kosher estão ligadas ao templo e eram temporárias: "Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio do maior e mais perfeito tabernáculo (não feito por mãos, isto é, não desta criação)". Hebreus 9:11

Manter as leis de dieta alimentar de Levítico 11 é uma prática essencial do que significa para o povo quando diz que "observa a Torah" nos dias de hoje. O que as pessoas geralmente falham em observar, contudo, e o que o escritor dos Hebreus observou tão perspicazmente, é a ligação entre as leis alimentares e o tabernáculo. Levítico 11 é parte de uma larga secção (de Levítico 11-15) conhecida como as "Leis da Pureza", todas elas vinculadas à pureza do tabernáculo (Levítico 16). Por exemplo, se alguém for apanhado a pecar por comer um animal impuro, isso pode fazer com que o seu pecado seja uma profanação do templo. E isto, para esses grupos, já não é relevante nos dias de hoje.

"Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demónios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada, proibindo o casamento, e ordenando a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com acções de graças pelos que são fiéis e que conhecem bem a verdade; pois todas as coisas criadas por Deus são boas, e nada deve ser rejeitado se é recebido com acções de graças; I Timóteo 4:1-4

Nós acreditamos que Deus prometeu uma Nova Aliança (não uma aliança renovada) que substitui a antiga: "Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egipto, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor." Jeremias 31:31, 32.

"E por lhe chamar esta aliança NOVA..., Ele tornou a primeira obsoleta: "...Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e envelhece, perto está de desaparecer." Hebreus 8:13

Nós, até mesmo, acreditamos que as profecias acerca do templo do proferidas pelo profeta Ezequiel relativas o fim da aliança do Sinai, as quais, tal como a sua descrição de um futuro templo, contradizem o templo da Torah.

Apesar dos nossos membros do ministério observarem o Shabat aos Sábados, e não aos Domingos, nós não fazemos deste assunto uma grande questão uma vez que não é apenas um dia da semana que dedicamos a Deus mas o nosso descanso está em Yeshua todos os dias.

"Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo." Colossenses 2:16,17

Também, embora nós chamemos o Messias “ישוע” (Yeshua), nós oramos "em nome de Jesus" e funciona do mesmo modo. ;) Ele conhece quem fala com Ele, independentemente de qual a palavra que possamos usar.

Acreditamos que o Judaísmo Rabínico ensina falsamente que o papel do Messias será conduzir-nos para a Lei de forma a ensinar-nos como observar melhor os mandamentos e isso tem influenciado negativamente os grupos "observantes da Torah". Enquanto isso, nós agarramo-nos ao ensino de Paulo que aponta para o Messias e que o alvo da Torah é o próprio Messias.

Nós acreditamos que a última oportunidade vem através de Yeshua. Os mandamentos de Yeshua não tratam apenas com o exterior: eles tocam profundamente os nossos corações e causam uma mudança que vem de dentro através da capacitação do Espírito. Com Yeshua, matar não está limitado à morte física; adultério não está limitado à união física. Os padrões são muito mais elevados! Yeshua chama-nos e capacita-nos através do Seu Espírito para controlar a nossa raiva, a evitar a cobiça e amar os inimigos.

Como podemos concluir, quando nos seguimos as tradições ou nos concentramos no "que" ou no "como" fazer (ou não fazer) que são coisas exteriores, pois isso apenas nos torna amargos para com os que estão à nossa volta e torna-nos venenosos contra os que não concordam connosco.

O alvo de Yeshua é lidar com o nosso interior, profundamente nos nossos corações, ensinar-nos amar a Deus e então amar toda a Sua criação, em todo o lugar, em todo o tempo. "A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei." Romanos 13:8

Traduzido de:
http://oneforisrael.org/blog/410-are-we-under-the-sinai-law-what-is-our-stance-regarding-the-torah

Artigo com conteúdo idêntico: 
http://cristaossionistasportugueses.blogspot.pt/2015/09/o-risco-de-amar-demais-o-povo-judeu.html