quinta-feira, 19 de maio de 2016

A ancestralidade do povo judeu


Um comentário produzido neste blog no artigo "O que é o Sionismo" levantou uma quqe nos parece pertinente destacar:

"Não sou um conhecedor profundo da história de Israel e do movimento político Sionismo. Creio que fiquei esclarecido, mas levantou-me também algumas questões. Corrija-me se estiver errado, mas a questão de Israel é de sobeja importância para todo o mundo, e em particular para nós cristãos também.

1 - A Terra é ancestralmente dos Povos Judaico e Israelita, se tivermos em conta a tradicional divisão dos dois reinos ancestral, de Judá e Israel. Mas a designação povo Judeu é uma referência religiosa e não de ancestralidade, correcto?

2 - Mas na sua maioria, o actual povo judeu tem ascendência maioritariamente europeia, certo? Na realidade a maioria do povo judeu tem ascendência no antigo império de Khazar, convertido ao judaísmo E o povo ashkenazi, procede de Japheth e não de Sem. Isto não contraria a tese de ancestralidade do povo judeu?

3 - Não significa isto também que parte relevante do povo que ancestralmente era conhecido como povo de Israel/Judá, semitas, não se encontram actualmente em Israel, mas espalhados pelo mundo?

O seu esclarecimento será para mim uma benção. Um abraço e que Deus muito abençoe todo o povo que hoje se encontra em Israel, assim como aqueles que ancestralmente são de facto descendentes de Abraão, Isaac e Jacob (Israel), e se encontram espalhados pelo mundo, porventura sem saberem que pertencem à casa de Israel."


1ª Resposta.

Em relação às questões colocadas dou alguns contributos, sugerindo algumas fontes de informação em baixo também.

1. R: A designação Judeu tem origem na tribo de Judá, a tribo real, que foi adotada para todo o descendente de qualquer uma das 12 tribos. Acumula conotações religiosas, sociopolíticas e étnicas e é ainda um tema que se debate dentro e fora de Israel pelos próprios judeus. Antes de chegarem à Terra Prometida pela mão de Moisés e Josué a descendência de Abraão, Isaque e Jacob, denominava-se de povo hebreu.

2.R: Os askhenazi são um dos grupos importantes de judeus, com origem na europa central e de leste. Há um outro grupo muito grande que são os sefarditas. Estes são os dois grupos principais que dividem o poder religioso em Israel e não só. Esther Mucznic da Comunidade Israelita de Lisboa dá formações sobre este e outros temas. Quantos aos semitas, eles são o povo hebreu (hoje os judeus) e o povo árabe (são primos). No final do séc. 17 as principais concentrações de Judeus eram: Europa 70%, Norte de África 17% e Império Otamano 13% (Atlas of Modern Jewish History de Evyatar Friesel). O reino da Kazaria foi um reino bárbaro que se converteu ao judaísmo entre 700 e 1010DC, não sendo a origem dos judeus da europa de leste. Os judeus já andavam pela europa por razões de mercantilismo desde o império romano, tendo criado ligações comerciais desde a China até Europa Central e Norte de Africa, passando pela Grande Bulgária (Kazaria). Por razões de comércio no quadro dos vários impérios que dominaram a terra de Israel, ou por razões de expulsão, espalharam-se pelas nações, pelas razões que a Bíblia explica.

3. Correto. Estão espalhados pelo mundo, mas cada vez mais a regressar a Israel. Segundo o Atlas of Modern Jewish History nos anos 80 do séc. XX distribuíam-se pelo mundo assim: Américas (49,8%), Asia (27,8%), Europa (20,7%), Africa (1,1%), Oceânia (0,6%). O nº de judeus no mundo segundo o Atlas referido, diz que em 1970 existiam cerca de 12,8 Milhões de Judeus no mundo sendo que 20,1% estavam em Israel. Em 1980, em Israel existiam 27,5% ou seja 3,5 Milhões. Hoje em 2016 vivem em Israel 6,1 Milhões de judeus (sendo a população total, com outros grupos, 8,1 Milhões). A profecia bíblica da restauração de Israel está em cumprimento acelerado. Há muitos judeus que estão a regressar continuamente para casa (vide ministério cristão e outro secular judaico que apoia dedicadamente essa causa http://int.icej.org/media/biblical-zionism; http://shavei.org/ Os marranos portugueses (cristãos novos) estão na lista dos apoios para regressar a Israel.

2ª Resposta.

Em primeiro lugar, hoje, o termo Judeu já não designa apenas os descendentes de Judá, mas é referido em sentido lato. Pois, sabemos que com Judá sempre ficou Benjamim e os Levitas, mas também alguns de entre as tribos dispersas se lhes têm unido, vindas de outras terras (isto exige um artigo específico).

Sobre a questão do povo askhenazi… Pelo que percebi a questão é se estes, não sendo diretamente descendentes de Jacob, terão direito à terra, assim como prometido biblicamente.

Pelo que percebo nas Escrituras, um gentio (estrangeiro) que se circuncidasse era tido segundo a Lei de Deus como um israelita.

Êxodo 12:48 Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela.

Êxodo 12:49 Haverá uma mesma lei para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós.

Sendo assim, não diferença nessa questão do direito à terra. Israel sempre foi um povo onde gentios convertidos ao Deus de Israel foram integrados sem diferenciação.

Dou o exemplo de Raabe, a prostituta de Jericó (Josué 6:5), e Rute (Rute 4:13-22) que não apenas foram integradas no povo de Israel como se de um deles se tratasse como foram incluídas na genealogia do Messias.

Mateus 1:5 a Salmom nasceu, de Raabe, Booz; a Booz nasceu, de Rute, Obede; a Obede nasceu Jessé;

Penso que não está em causa o direito à terra àqueles que foram integrados em Israel em qualquer período da História. Esta é a minha posição.

Pelo que conheço, de amigos que comungam com os judeus na sinagoga em Lisboa, o que conta para ser membro da sinagoga é mesmo a ascendência e não tanto a religião judaica. Eu também não sou especialista na matéria, mas há estes dois requisitos, ou a tal ancestralidade ou a conversão, que podemos indicar como religiosa no caso dos askhenazi e outros ao longo do tempo.

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