terça-feira, 31 de maio de 2016

A invenção da Jordânia

Rei do Reino Haxemita da Jordânia, Abdullah I
A Jordânia não existia até 1921 quando Winston Churchil a inventou. Nos 25 anos seguintes os Britânicos dominaram as questões internacionais. Os Britânicos também criaram, treinaram e lideraram um dos exércitos mais eficazes na região, a Legião Árabe. Esta força capturou a metade oriental de Jerusalém na guerra de 1948, muito mais do que as Nações Unidas tinham separado para ser o Estado Árabe no que sobrava do Mandato da Palestina.

Em 1946 a Transjordânia tornou-se formalmente independente e Abdullah, que os Britânicos tinham colocado como governador da nação, assumiu o título de Rei. Um dos objectivos de Abdullah era criar uma Grande Síria. Afim de atingir esse fim, anexou aquela parte do território e rapidamente renomeou o seu país para “Reino Hashemita da Jordânia”. Umas das consequências desta acção foi que a população no território duplicou e além disso qualificou 400.000 pessoas como "refugiados".

Abdullah era basicamente um governante tribal originário da Arábia com as suas tradições. Progressivamente foi sendo confrontado com políticas complexas de governo, especialmente quando os Árabes que se juntaram na Judeia e Samaria se tornaram a maioria entre a população e quando as suas ambições territoriais entraram em rota de colisão com as ambições do Egipto e Arábia Saudita.

Ironicamente, as relações de Abdullah eram melhores com Israel do que com os outros Árabes. Os Israelitas acreditavam que poderia ser possível alcançar um acordo de paz com Abdullah, contudo, essas esperanças foram frustradas quando o rei foi assassinado em 20 de Julho de 1951 em frente da mesquita do Monte do Templo por um dos acólitos do Mufti de Jerusalém.

Hussein toma o poder.

A morte do rei criou uma crise de expectativa de sucessão. Crown Prince Talal estava nessa ocasião a ser tratado na Suíça de um colapso nervoso. Talal regressou para governar o país mas a sua condição mental deixou-o inapto para governar e acabou por ser deposto em 1952 tendo o lugar sido ocupado pelo seu filho Hussein. Quando alguns meses mais tarde, depois que completou 18 anos, foi empossado como rei.

Por mais de 40 anos, Hussein, que tinha testemunhado o assassinato do seu avô, governou habilidosamente o seu país, superando numerosas tentativas de assassinato e navegando com sensatez política entre o mundo Árabe. Internamente, o problema era a inquieta população árabe Palestiniana, que odiava Israel por os ter "deslocado" e por os aliados da Jordânia, Reino Unido e Estados Unidos serem os mesmo que apoiavam Israel.

Os Árabes imigrantes, ou refugiados se quiser, tendiam também para olhar sobranceiramente para os naturais da região que não tinham um nível de educação equivalente e eram pessoas mais simples. Este ressentimento iria deteriorar-se ao longo dos anos e ainda é um grave problema.

Hussein manteve a sua proximidade com o Reino Unido e também desenvolveu laços fortes com os estados Unidos, culminando no acordo económico em 1954, a primeira negociação com um governo Árabe. Esta relação próxima com as potências ocidentais não era bem vista por grande parte da população que era particularmente amarga para com a influência Britânica. Mas em 1956, Hussein tomou a dramática decisão de demitir o General Britânico que comandava a Legião Árabe e expulsou-o do país, um gesto que o tornou popular no seu país e no restante mundo Árabe.

Apesar da ira Britânica e pressão para uma mudança da política Jordana, a realidade era que Hussein permanecia aliado do Ocidente e a totalidade das tropas Britânicas só deixaram o país no ano seguinte.

A Jordânia torna-se vital

Os outros estados Árabes esperavam ver os "imperialistas" fora da Jordânia repondo a ajuda económica que o Reino Unido lhes concedia. A Jordânia acabou por revogar o seu tratado com os Britânicos em 1957 e então, o Egipto, a Síria e a Arábia Saudita começaram a providenciar ajuda financeira ao regime de Hussein. Mas apesar de ele agora estar com maior prestígio perante estas nações, alguns elementos na Jordânia não acreditavam que Hussein fosse suficientemente revolucionário, conspiravam para o derrubar e para substituir a monarquia por uma república, estratégia que fazia parte de uma visão Pan-Arábica e que queriam sob o seu controlo.

Hussein deteve uma série de revoltas em 1957, a última delas suscitada pelo envio da Sexta Esquadra dos Estados Unidos para a costa do Líbano e o anúncio de que a América considerava a integridade da Jordânia como vital para os seus interesses e que em conformidade providenciaria ajuda financeira ao governo de Hussein. Esta ira dos estados Árabes descontinuou a ajuda que eles providenciavam à Jordânia mas esta necessidade foi rapidamente substituída por fundos Americanos e a partir daí os Estados Unidos tornaram-se os principais aliados do país.

Um ano mais tarde, depois da revolução no Iraque em 1958, militares na Jordânia tentaram uma nova revolta. Hussein pediu ajuda aos Britânicos e eles dispensaram um batalhão de paraquedistas. As forças Americanas que se tinham deslocado para o Líbano para apaziguar as turbulências que havia por lá, tornaram claro que estavam preparados para ajudar a Jordânia se fosse necessário. Mas as forças de Hussein foram suficientes para deter a rebelião.

A Jordânia continuou a ensaiar relacionamentos com outras nações árabes. Como uma monarquia conservadora a Jordânia não iria dar-se bem com regimes revolucionários como o Egipto, Síria e Iraque, que eram aliados da união Soviética que advogava o socialismo, anti-Ocidente, e agendas Pan-Árabes. Hussein também tinha problemas, contudo, com outras monarquias, especialmente a Arábia Saudita, por causa dos seus laços de proximidade com o Ocidente e uma moderada aproximação ao Islão.

Perdendo para Israel

Apesar de Hussein não manter publicamente uma atitude beligerante para com Israel, que os outros líderes Árabes expressavam, as relações ainda eram frequentemente tensas. Haviam disputas por causa do uso do rio Jordão, que os Israelitas queriam desviar para o seu uso, o que os Árabes negavam. Também, terroristas árabes frequentemente atacavam Israel a partir de bases na Jordânia e provocavam contra-ataques.

Em 1967 o Rei Hussein ignorou os avisos Israelitas para ficar de fora do conflito com os Árabes e atacou Israel. Apesar do seu exército combater bem, foram forçados a retirar de Jerusalém e de Judeia e Samaria. Em consequência, milhares de árabes da região refugiaram-se a Oriente do Jordão para evitar ficar sob o governo israelita.

Apesar de terroristas Palestinianos continuarem a complicar as relações entre Israel e a Jordânia, os dois países mantêm relações pacíficas. Contactos secretos eram comuns e em 1973 Hussein escolheu não repetir o erro de 1967 mantendo-se distante do ataque surpresa a Israel perpetrado pelo Egipto e Síria

A OLP tenta um golpe.

A grande ameaça para a Jordânia era interna, da Organização de Libertação da Palestina, a qual tinha gradualmente desenvolvido um estado próprio dentro do reino. Eles controlavam os campos de refugiados, contrabandeavam armas que exibiam publicamente e ostensivamente, ignoravam os oficiais os governo Jordano e minavam a autoridade de Hussein. O Rei tentou negociar um entendimento com os Palestinianos mas eles ignoravam a sua autoridade.

A paciência de Hussein atingiu o limite quando terroristas Palestinianos desviaram aviões para a Jordânia em Setembro de 1970, episódio que ficou conhecido como o "Setembro Negro". A pedido da Jordânia, via Estados Unidos, Israel preparou-se para intervir a favor de Hussein. Mas o exército de Hussein repeliu os Sírios e derrotou os Palestinianos, contudo, sem necessitar da ajuda de Israel. De seguida, a maioria da liderança Palestiniana, incluindo Yasser Arafat, evadem-se para a Síria e mais tarde para o Líbano onde depressa minaram o governo deste último.

Hussein sobrevive de novo

Hussein foi nos anos 70 melhor dos líderes. Ele prevaleceu contra o desafio dos Sírios, derrotou a O.L.P., manteve-se fora do confronto com Israel, e desenvolveu relações com todos excepto com os Palestinianos.

Apesar o Presidente Egípcio Anwar Sadat e o Presidente Sírio Hafez Assad ficarem irados por Hussein não ter alinhado no seu ataque a Israel, os laços com a Jordânia melhoraram consideravelmente.

Em 1974 o Presidente Nixon tornou-se o primeiro presidente Americano a visitar a Jordânia. No ano seguinte os Estados Unidos venderam a Hussein sistema defesa antimíssil HAWK. Desde então, até à sua morte em 1999 Hussein foi visto como um líder Árabe moderado e o amigo mais fiável da América entre o mundo Islâmico.

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